Em 2020, setor sucroenergético soube se posicionar superou um dos anos mais difíceis para o setor

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  • 11/2/2021 11:14
  • Ester Agroindustrial
  • Ester Agroindustrial

A safra 2020/2021 da cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil se encaminha para o encerramento tendo como principal avanço a bem-sucedida implantação da Política Nacional de Biocombustíveis RenovaBio. Atualmente, 65% das empresas produtoras de etanol no país participam do programa e estão certificadas e aptas a emitirem créditos de descarbonização (CBios) essas empresas representam cerca de 85% da produção nacional de etanol.

Até dia 11 de dezembro de 2020 foram registrados mais de 17 milhões de CBios e mais de 80% dos títulos haviam sido adquiridos para o cumprimento das metas pelas distribuidoras. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (ÚNICA) estima que até 31 de dezembro a soma de CBios gerados deve chegar a 18 milhões. Na safra 2020/2021, que vai até 31 de março, esse número pode atingir 23 milhões.

"Mesmo com os desafios deste ano conseguimos tornar o RenovaBio uma realidade. Assim, entregamos para a sociedade brasileira um novo patamar de transparência e mensurabilidade da pegada de carbono, sem paralelo no mundo", analisa Evandro Gussi, presidente da UNICA. "Precisamos destacar o trabalho sério realizado pelo Ministério de Minas e Energia, pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, pelo Congresso Nacional e pelo Conselho Nacional de Política Energética na implementação da política", complementa.

Atualmente, 215 unidades produtoras de etanol, 22 unidades produtoras de biodiesel e 1 produtora de biometano estão certificadas. A Política Nacional de Biocombustíveis RenovaBio foi desenhada para atingir parte das metas de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) estipuladas pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris. O programa compara a pegada de carbono dos diferentes biocombustíveis em seu ciclo de vida (da produção à combustão no veículo) para mensurar a redução de emissões proporcionada frente à alternativa fóssil e estabelece metas decenais de descarbonização, que são cumpridas com o aumento do uso de combustíveis renováveis e a comercialização de créditos de carbono (CBIO).

Safra 2020/2021 registra recorde na oferta de açúcares

Dados apurados até 1º de dezembro de 2020 confirmam a safra 2020/2021 como o ciclo em que a cana-de-açúcar cultivada no Centro-Sul mais ofertou matéria-prima para produtos (açúcar e etanol). A quantidade de açúcares totais recuperáveis (ATR) produzido pelas empresas até o início de dezembro, totalizou 86,33 milhões de toneladas, superando os dados finais registrados nas safras anteriores. A projeção para o final do ciclo 2020/2021 é de 87,54 milhões de toneladas de ATR no acumulado desde abril de 2020 até março de 2021.

Essa condição decorre da maior moagem de cana-de-açúcar e, principalmente, da melhora na qualidade da matéria-prima processada. De fato, até 1º de dezembro a moagem acumulada atingiu 594,88 milhões de toneladas (+3,32%) e a concentração de açúcares na planta alcançou 145,13 kg de ATR por tonelada de cana-de-açúcar (+4,24%). Para o final da safra 2020/2021, a quantidade de matéria-prima processada deve atingir 605 milhões de toneladas, com índice de qualidade de 144,70 kg de ATR por tonelada de cana-de-açúcar.

"No ciclo 2015/2016, a moagem de cana-de-açúcar atingiu recorde de 617,71 milhões de toneladas, mas a qualidade da matéria-prima ficou apenas em 130,51 kg de ATR por tonelada de cana. Nesse ano, o volume foi menor, mas a qualidade foi muito superior. A maior concentração de ATR no ciclo 2020/2021 equivaleria a um processamento de quase 30 milhões de toneladas de cana-de-açúcar a mais com a qualidade dentro da média dos últimos anos", explica o diretor técnico da UNICA, Antonio de Padua Rodrigues.

Produção de etanol e de açúcar

A UNICA estima que 46,04% da cana-de-açúcar processada na safra 2020/2021 será destinada à produção de açúcar, ante 34,33% observados no ciclo anterior. Com isso, a produção de açúcar esperada para o atual ciclo é de 38,40 milhões de toneladas, registrando incremento de 43,49% na comparação com a safra passada.

"A qualidade excepcional da matéria-prima nesse ano permitiu uma ampliação significativa na produção de açúcar. Para a próxima safra, as indicações de menor oferta de cana-de-açúcar e do restabelecimento da qualidade para o patamar histórico devem provocar retração na oferta de açúcar", explicou Rodrigues.

Já a produção de etanol deve alcançar 30,44 bilhões de litros no atual ciclo agrícola, com queda de 8,45% comparativamente ao volume observado na temporada passada (33,26 bilhões de litros). Do total produzido no atual ciclo, 9,76 bilhões de litros devem ser de etanol anidro e 20,69 bilhões de etanol hidratado.

A produção de etanol a partir do milho, por sua vez, deve alcançar 2,65 bilhões de litros na safra 2020/2021. Trata-se de um incremento próximo a 63% em relação ao volume fabricado no último ano agrícola (1,62 bilhão de litros).

Mercado de etanol

Desde o início da safra até 1º de dezembro, as unidades produtoras do Centro-Sul comercializaram 20,47 bilhões de litros de etanol. Desse total, 2,04 bilhões de litros foram direcionados ao mercado externo e 18,43 bilhões de litros ao mercado doméstico.

No mercado doméstico, as vendas de etanol hidratado alcançaram 12,71 bilhões de litros e as de etanol anidro 5,71 bilhões de litros.

"A queda de consumo de combustíveis leves foi muito intensa no início da pandemia, mas já começa a dar sinais de recuperação agora no final do ano. Estamos trabalhando com uma queda de 7% na demanda total de combustíveis do ciclo Otto na safra 2020/2021", esclareceu o executivo da UNICA.

Internacional

O setor sucroenergético brasileiro mais uma vez demonstrou seu valor estratégico para os parceiros comerciais do Brasil, fornecendo produtos com preços competitivos e uma cadeia de valor que protege o meio ambiente e seus trabalhadores. De janeiro a novembro de 2020, exportamos 28 milhões de toneladas de açúcar, um crescimento de 70% em relação ao mesmo período do ciclo anterior.

"Tivemos safras menores em grandes produtores, como Tailândia e Índia, e a flexibilidade de produção da indústria brasileira possibilitou que aproveitássemos essa oportunidade. Observamos elevação na demanda e nos preços", analisa Eduardo Leão de Sousa, diretor executivo da UNICA. Conforme mencionado anteriormente, os envios de etanol também avançaram e atingiram 2,4 bilhões de litros, incremento de 36% de janeiro a novembro.

A atuação do Brasil no comércio exterior foi intensa. Em maio, após negociações, a China deixou expirar sem renovação a política de salvaguarda criada em 2017, que chegou a elevar a tarifa de importação de açúcar a 95%. Com isso, o produto brasileiro voltou a ser competitivo no mercado chinês, com o imposto de entrada de 50%. O painel na Organização Mundial do Comércio (OMC) iniciado pelo Brasil contra a Índia teve sua primeira audiência adiada por conta da pandemia e realizada em dezembro, com a participação de representantes da Guatemala e da Austrália, que também têm ações contra os subsídios ao açúcar.

A Costa Rica também passou a ser alvo de retaliações brasileiras devido ao protecionismo ao mercado de açúcar, com a elevação da tarifa de importação de 45% para 80%. Por fim, na ausência de um acordo mais vantajoso para exportação de produtos brasileiros para os EUA, o governo não renovou a cota para a entrada de etanol importado isento da Tarifa Externa Comum do Mercosul, que beneficiava especialmente os norte-americanos.

Paralelamente, a UNICA identificou um crescente interesse de países em relação aos benefícios do etanol para a redução de gases de efeito estufa, poluição local e diminuição do uso de combustíveis fósseis. "Verificamos em países da América Latina, da África e da Ásia, que possuem clima tropical e subtropical, condições favoráveis para a produção de biomassa de forma competitiva e de uso dessa biomassa para energia", explica o diretor executivo.

Bioeletricidade

A geração de bioeletricidade a partir da cana-de-açúcar deve chegar a 22,6 mil GWh ofertados para o Sistema Integrado Nacional (SIN) em 2020, apresentando um crescimento em torno de 1% em relação a 2019. O montante equivalente a 5% do consumo anual de energia elétrica no país ou a atender 12 milhões de residências, proporcionando a redução de 7 milhões toneladas de CO2, marca que somente seria atingida com o cultivo de 49 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos.

"Vale destacar que em setembro a Lei 14.052 foi aprovada com o objetivo de resolver a judicialização do risco hidrológico nas liquidações financeiras mensais no Mercado de Curto Prazo, que se arrasta desde 2015 e afeta bastante a bioeletricidade, com uma dívida judicializada R$ 10,3 bilhões", analisa Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da UNICA. Estima-se que setor sucroenergético tenha a receber em torno de R$ 500 milhões desta dívida.

Agenda para o setor de bioeletricidade para o ano de 2021 inclui: avanço do projeto de modernização do Setor Elétrico no Congresso; acordo da dívida sobre risco hidrológico com primeiros pagamentos previstos para abril; expansão do mercado livre que passa a incluir consumidores livres com demanda superior a 1.500 kW (atualmente, exige-se 2.000 kW); e oportunidades para comercialização de projetos novos de bioeletricidade e de biogás em quatro leilões de energia nova.

Doações durante a pandemia

O álcool 70 tornou-se insumo essencial no combate à disseminação do coronavírus. Com o início da pandemia, as empresas associadas à UNICA pactuaram a doação de 1 milhão de litros para contribuir com o abastecimento das unidades públicas de saúde, de forma gratuita. Nove estados receberam doações: Ceará, Bahia, Tocantins, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina.

"A doação de grandes volumes às secretarias estaduais é apenas uma ação entre inúmeras desenvolvidas pelas empresas associadas nos municípios e estados onde estão localizadas as unidades produtivas", explica Evandro Gussi, presidente da UNICA. "Para manter a população abastecida dos produtos essenciais, etanol, açúcar, bioeletricidade e álcool para assepsia, o setor adotou regras rígidas de sanidade e segurança para garantir a saúde dos colaboradores", complementa.

Também foi feita a doação de 332 mil litros de álcool 70% para uso durante as eleições deste ano, em uma parceria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O insumo teve como destino a fabricação de álcool em gel para eleitores e a desinfecção de superfícies. 

 

link: https://www.noticiasagricolas.com.br/videos/sucroenergetico/276793-em-2020-setor-sucroenergetico-soube-se-posicionar-superou-um-dos-anos-mais-dificeis-para-o-setor.html#.YCU7nGhKiM9


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